
Ao falar sobre as formas geométricas, um dos conteúdos da disciplina Ensino de Arte, percebi a dificuldade das crianças em manusear lápis, papel, tesoura e cola. A maioria das crianças com essa faixa etária ainda não sabe manusear o lápis, segurar tesoura, cortar e colar papéis. Muitas não conhecem o nome círculo e chamam a forma geométrica de redonda ou de bola. Mas essa é uma atividade que se tornará comum ao longo do ano. Para isso, precisamos estimular nossos alunos com atividades interessantes, significativas e dentro do contexto dos conteúdos e projetos que estão sendo trabalhados em sala de aula. Dessa necessidade surgiu a ideia de desenhar vários círculos em papéis, os mais variados, como caixas de remédio, creme dental, sabonetes, entre outros que chegam diariamente em nossas residências. Pedi às crianças que cortassem esses círculos e colassem em um papel em branco. A experiência foi boa, mas poderia ser melhor. Então, em outra sala de aula, realizei a mesma atividade, mas peguei uma folha de papel A4 e dividi ao meio. Minha intenção era que o papel ficasse todo preenchido com círculos cortados pelas crianças. Desenhei 20 círculos em cada folha e dei uma (folha) para cada criança. Coloquei variados e coloridos papéis sobre suas carteiras, entreguei uma tesoura para cada uma delas e coloquei cola em pequenos pedaços de papel, evitando o desperdício de material. A atividade teve aceitação geral. Todas as crianças sentiram-se desafiadas a cortar aqueles círculos e colar nas folhas que receberam. Como, na época, eu tinha sete salas de aula, não havia tempo para desenhar manualmente uma atividade para cada criança. A saída foi reproduzir a atividade em quantidade suficiente para todos os alunos das sete salas do turno vespertino, onde eu lecionava. Após a atividade fiz perguntas sobre os objetos que têm a forma circular, ou parecida, dentro da sala de aula, na escola, na casa deles, na rua e no céu. Algumas das respostas foram: na sala de aula, o ventilador, a pia do banheiro, o cesto de lixo e as bolas para brincar. Na casa deles, a mesa, os pratos, os copos, bancos para sentar, ventilador, cestos de lixo, cesto de roupa, pia da cozinha e dos banheiros, vasos de plantas, entre outros. No céu, a lua e o sol.
A atividade gerou uma boa discussão visto que algumas crianças disseram que as mesas de suas casas não eram redondas, mas pareciam com as mesinhas (carteiras) da escola, ou seja, eram quadradas ou retangulares. Faltando vinte para o término da aula, confeccionamos um brinquedo chamado disco voador, cujo formato é circular. Resumindo, posso dizer que essa aula foi maravilhosa. A alegria, a participação e a concentração das crianças foram
notáveis. Elas brincaram e aprenderem ao mesmo tempo, ou seja, tiveram uma aprendizagem lúdica, contextualizada e significativa.
Não sou contra a utilização de atividades xerografadas, afinal, tenho plena convicção de que além das brincadeiras, cantigas de roda, confecção de brinquedos, danças e dramatizações, entre outras coisas, as crianças também gostam de realizar atividades escritas. Dessa forma são estimuladas a vários tipos de letramentos, entre os quais, a leitura e a escrita. O que lamento é a forma aleatória como muitas dessas atividades são colocadas aos alunos. Muitos professores, de forma equivocada, levam para sala de aula desenhos de Mickey, Tio Patinhas, Homem Aranha, Barbie, entre outros, para colorir. Nada tenho contra esses desenhos, mas, para exemplificar, qual a relação das formas geométricas, assunto que foi citado hoje, com os mesmos?
Como educadora, não compartilho da ideia de professores subestimarem seus alunos. Parabenizo aqueles que realizam seu trabalho de forma coerente e compromissada, fazendo jus ao discurso de aprendizagem lúdica, contextualizada e significativa.
Prof. KacianniKacianni de Sousa Ferreira é professora de arte e pertence ao quadro da Secretaria Municipal de Educação de Natal – SME. Estuda e desenvolve trabalhos como facilitadora em Danças Circulares e Brincadeiras de Roda na área de educação, além de ministrar cursos e oficinas com material reciclável em diversas cidades e instituições. Iniciou trabalho com educação infantil em 2007. É autora dos livros “Confecção de Brinquedos”, 2009; “Brincadeiras e Brinquedos: da Educação Infantil a Melhor Idade”, Vozes/2010, “Muro de Sabonetes” (conto / literatura infanto-juvenil), 2011 e “Atividades para Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental”, WAK Editora/2012.
E-mail: kacianni@hotmail.com - Blog: brinquedoscomsucata.blogspot.com
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